Mensagens

Cicatrizes que viram testemunhos, não para propaganda em ambão mas para os que Deus nos coloca no caminho.

 Durante muito tempo, tentei esconder as minhas feridas. Achei que as partes partidas da minha história me diminuíam, que expor os meus fracassos seria um escândalo, e que os outros — e até Deus — só poderiam amar as versões mais perfeitas e arrumadas de mim. Mas o Evangelho não é feito de aparências. O Evangelho é carne rasgada, cruz carregada, lágrimas derramadas e glória redentora. E foi aí que entendi: as minhas cicatrizes não são sinais de derrota — são testemunhos da fidelidade de Deus. As feridas que se tornam sagradas. Não foram os momentos bonitos que me transformaram — foram os dias em que fui ao chão. Foram as rejeições, as traições, os silêncios cortantes, as injustiças sem defesa. Foram as madrugadas em que chorei sozinha e só tinha a Deus por companhia. E nesses dias, Deus não me tirou da dor — mas entrou nela comigo. A minha alma foi rasgada em muitos lugares. Por palavras cruéis, por julgamentos injustos, por acusações mentirosas. Fui apontada, mal interpretada, sil...

Intimidade com Deus além do domingo

A certa altura da minha caminhada, compreendi que Deus não me queria apenas aos domingos. Nem apenas na missa, nem somente quando o cântico termina ou quando a oração é pública. Deus quer-me inteira, todos os dias. E quer-me num lugar onde só Ele e eu existimos: o secreto. A intimidade. A entrega verdadeira. Aprendi, com lágrimas e silêncio, que a fé que sobrevive ao tempo não é aquela que se vive apenas na liturgia, mas a que se respira entre as dores da segunda-feira, os cansaços da quarta-feira e os vazios da sexta-feira à noite. É ali, longe dos olhos dos outros, que se revela o que realmente tenho com Deus. A minha fé não se mede pelos momentos em que participo de algo sagrado. Mede-se pela forma como ajo quando ninguém está a ver. Pela maneira como perdoo o imperdoável, como escolho calar quando queria gritar, como continuo a amar quando o coração quer endurecer. Intimidade não se improvisa. A intimidade com Deus é como um jardim: não floresce por acidente. Exige constância, silê...

Como manter a fé quando tudo diz o contrário

 Há momentos em que a fé não é uma resposta fácil, nem uma emoção doce, nem sequer uma luz visível. Há momentos em que crer é um acto de resistência interior. Um grito mudo contra todas as evidências. Um permanecer de pé quando tudo à volta está em ruínas. E foi exactamente nesses momentos que percebi que a fé não é um sentimento — é uma decisão. Já me vi em situações onde tudo gritava contra a promessa. Onde o “ Deus é bom ” parecia uma frase bonita — mas o mundo à minha volta parecia desmenti-la. Onde a oração ecoava no vazio. Onde os milagres aconteciam… mas na vida dos outros. E ali, naquela dor concreta, comecei a aprender o que significa verdadeiramente acreditar. A fé que permanece quando o chão desaparece. Não é difícil acreditar quando tudo corre bem. O verdadeiro desafio é confiar quando o invisível parece ausente. Quando a saúde falha. Quando os laços se quebram. Quando os sonhos morrem. Quando Deus parece calado. Mas foi no silêncio, não no ruído, que ouvi mais claramen...

A mulher de Provérbios 31 na vida real

 Sou mulher. Católica. Fiel a Deus, mas também profundamente humana — de carne, alma, sangue, sombra e luz. E durante anos, li Provérbios 31 com fascínio e desconforto. Aquela mulher parecia um ideal inatingível: perfeita, incansável, admirada, sábia, próspera, virtuosa — quase etérea. Mas um dia deixei de lê-la como lista de exigências e comecei a vê-la como revelação do que Deus sonha em mim, com a minha história, o meu tempo, as minhas limitações. A mulher de Provérbios 31 não é um fardo — é uma inspiração. Ela é real quando a vejo em mim sem filtros perfeccionistas. Durante muito tempo, tentei ser todas as coisas que aquele texto descreve. Levantar cedo, gerir tudo, falar com sabedoria, sorrir sempre, render frutos em silêncio. Mas um dia quebrei. E ali Deus falou: "Tu não foste criada para corresponder a uma lista — foste criada para amar, com inteireza e com verdade." A mulher de Provérbios 31 é forte, sim, mas não é uma máquina: ela é inteira, não incansável; é sábia, ...

Como Ser Forte Sem Endurecer o Coração

Sou humana. Sou mulher. Sou Mãe. Católica. E por muitas vezes na vida, confundi força com dureza, resistência com rigidez, firmeza com frieza. Mas aprendi, com lágrimas e oração, que a verdadeira fortaleza não consiste em fechar o peito — mas em mantê-lo aberto mesmo depois de ferido. Ser forte não é tornar-se pedra — é ser terra que continua a acolher semente, mesmo depois da tempestade. Ser forte sem endurecer: lição da Cruz. A primeira vez que entendi esta verdade foi diante do Crucificado. Jesus, em toda a Sua dor, permaneceu vulnerável. Não se defendeu. Não retaliou. Não se fechou. Amou até ao fim — com o coração escancarado, transpassado, ofertado. A força d'Ele não foi a de um guerreiro, mas a de um Cordeiro. A força d'Ele foi permanecer bom num mundo mau. E se o próprio Deus amou com o peito aberto, como posso eu justificar o endurecimento como forma de protecção? Quando a vida pede couraça — mas Deus pede alma. A vida exige respostas rápidas, máscaras seguras, palavras...

Solteira, casada ou divorciada: Deus tem um plano para mim.

Sou mulher. E durante anos carreguei perguntas que ninguém via, dúvidas que não ousava dizer em voz alta, angústias que por vezes confundia com falta de fé. Sou católica. Creio no Deus vivo, Uno e Trino, na beleza da Igreja, na força dos sacramentos, e no mistério do tempo que Deus escolhe para agir. Mas sou, acima de tudo, alguém em caminho. E nesse caminho, já fui julgada, já me julguei, já me comparei, já me culpei. Já acreditei que estava fora do plano de Deus — apenas por não viver a vocação conforme a expectativa dos outros. Hoje sei: Deus tem um plano para mim — mesmo quando tudo parece desfeito, adiado ou imperfeito aos olhos do mundo. Se sou solteira: não estou à espera — estou a viver. Durante muito tempo, ser solteira foi apresentado como um “ ainda não” . “ Ela ainda não casou .” “ Está à espera do tal .” “ Tem de rezar mais, ter mais paciência, fazer algum jejum .” Como se a vida plena começasse apenas depois de uma aliança no dedo. Como se Deus só agisse em mim através de...

Lidando com o medo do futuro: onde o tempo termina e a fé começa

 Sou mulher. E como tantas mulheres silenciosas e fortes, tenho medos que nem sempre confesso. Talvez por pudor. Talvez por fé. Talvez por sabedoria que se aprende a custo. Mas há um medo que se insinua subtilmente na alma, mesmo quando tudo à volta parece em paz: o medo do futuro. Não falo de pânico, de ansiedade descontrolada, de tormento psicológico. Falo de aquela inquietação serena, mas constante, que nos faz perguntar: e se tudo mudar? e se perder? e se não chegar? Vivo com fé. Mas a fé, ao contrário do que tantas espiritualidades frágeis pregam, não é anestesia — é resposta. A fé não me impede de temer o futuro. A fé ensina-me a habitá-lo antes que ele chegue, com a confiança de quem já foi salva antes mesmo de cair. O futuro: Esse lugar onde não cheguei, mas que já me espera em Deus. O futuro, para mim, não é uma página em branco. É um território já tocado pela Providência. Não me pertence, mas já está nas mãos d’Aquele que me teceu no ventre. Não me é conhecido, mas não é ...

Santidade no Mundo Real – O Chamamento da Mulher Inteira

 Não me reconheço na imagem da santa que paira, intocável, alheada do pó da vida. Sou mulher de carne e oração. Sou católica, com a alma rendida a Cristo e os joelhos marcados por quedas e súplicas. E é precisamente no barro dos meus dias — no silêncio que ninguém vê, nas escolhas que me partem e no amor que me renova — que a santidade se desenha. Não como coroa. Mas como cruz. Aprendi, a duras penas, que o caminho para a santidade não é ausência de conflito, mas fidelidade no meio dele. Não é perfeição de catálogo, mas verdade diante de Deus. Não é pureza artificial, mas transformação interior. O caminho para a santidade no mundo real não é teatral. É visceral. A Santidade é Real Quando É Escolha Diária. No mundo real, sou provocada todos os dias a responder com fé onde seria mais fácil reagir com frieza. Tentar ser santa, aqui, agora, nesta cultura de pressa e aparência, é escolher o silêncio onde o mundo pede escândalo. É levantar a voz onde o medo quer calar. É ter paciência co...

Milagres Diários Que Não Vês — A Graça que Silencia o Óbvio

 Sou mulher. Sou crente. Sou católica. E quanto mais caminho na fé, mais compreendo que os maiores milagres de Deus não explodem no céu em luzes cintilantes, nem tombam da nuvem em tons de glória. Os maiores milagres, os mais assombrosamente reais, são diários, silenciosos, quase imperceptíveis. E é precisamente por isso que passam despercebidos — porque Deus, quando quer tocar-nos profundamente, raramente faz ruído. Hoje escrevo para ti, mulher como eu, talvez cansada, talvez dorida, talvez numa dessas fases em que nada parece acontecer… Mas onde tudo está a acontecer no invisível. Escrevo-te para que abras os olhos — não os do rosto, mas os da alma. Para que percebas que estás cercada de milagres. E tu mesma és um. O milagre de continuar viva, sem saberes como. Quantas vezes já te questionaste: “Como é que ainda estou de pé?” Após dores, perdas, decepções, acusações falsas, injustiças… E, no entanto, não te quebraste. Esse é o primeiro milagre: Estás viva. Inteira. Respirando. Cr...

Como Lidar com a Rejeição Sem me Fechar — Um Caminho de Cura em Deus

 Sou mulher. Sou católica. Sou humana. E conheço a dor da rejeição. Conheço-a não de ouvir falar, mas de a ter vivido na carne, nos olhos marejados, nos silêncios cortantes, nas injustiças que ferem com palavras que não disse e gestos que nunca pratiquei. Fui rejeitada por mentiras. Difamada. Denegrida. Apagaram a minha luz com calúnias, deturpações e aproveitamentos cobardes. Tentaram roubar-me a dignidade, a integridade, o brilho. E quase conseguiam. Porque há momentos em que nos perdemos no meio da lama lançada por mãos que deviam proteger — ou, pelo menos, respeitar. Fiquei mais seletiva. Tornei-me, por instinto, uma mulher mais reservada, até algo antagonista com certas profissões e as pessoas que as exercem, pois foram elas que se prestaram ao teatro da destruição moral. Mas mesmo assim — mesmo assim — não me fechei ao Amor. Permaneço aberta a acolher e amar. Demoro mais. Observo mais. Sinto mais profundamente o tempo necessário para confiar. Mas continuo inteira. E recuso a ...

O Tempo de Deus vs. O Nosso Relógio: Viver a Tensão da Oração e da Espera

Sou mulher. Sou católica. E sei que moro em dois tempos: o tempo acelerado do mundo e o tempo profundo da graça que chega no silêncio da alma. Deus não opera segundo alarmes humanos. Vivemos num mundo marcado pelo imediatismo: emails respondidos em segundos, planos formulados em meses, promessas espirituais vendidas em tempos de entrega. Mas a Palavra diz claramente: “Para tudo há tempo debaixo do céu. Há tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de chorar e tempo de rir…” (Ecl. 3,1‑4) Deus não se escraviza às nossas agendas. Ele não assume o nosso ritmo frenético. Ele não atende à urgência dos nossos medos. Deus opera na paciência da eternidade. Na quietude da espera. Na certeza de que o tempo d'Ele não falha. Enquanto o meu relógio me manda acelerar, Ele me convida a desacelerar: “Espera em mim. É aqui, no vazio do tempo humano, que Eu te encontro.” O nosso relógio cria ansiedade — o tempo de Deus gera fé. Há dias em que o coração trabalha como uma máquina inquieta: — “Quando é qu...

Amor-próprio à luz da Palavra: um espelho que devolve Deus

 Durante anos, tropecei nesta expressão: “amor-próprio” . Soava-me egoísta, mundana, demasiado próxima das filosofias que exaltam o "eu" em detrimento de tudo o resto. Fui ensinada — como muitas mulheres de fé — a dar, a renunciar, a calar, a apagar-me em nome do bem dos outros. A ideia de gostar de mim, de cuidar de mim, de olhar para mim com ternura parecia-me vaidosa, quase herética. Mas Deus — na sua infinita paciência — ensinou-me a verdade escondida no coração da Palavra. E hoje compreendo: o amor-próprio, quando vivido na luz de Cristo, não é idolatria do ego. É fidelidade à obra do Criador. Fui criada à imagem e semelhança de Deus. Esta é a base de tudo. Não fui moldada ao acaso, nem fruto de um erro genético, nem resultado de circunstâncias humanas. Fui sonhada. Fui desejada. Fui forjada pelas mãos do Eterno. O Livro do Génesis afirma: “Criou Deus o ser humano à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.” (Gn 1,27) Isto não é metáfora — é fundame...

A mulher sábia...

 A mulher sábia edifica a sua casa” (Provérbios 14,1) – Como viver isso hoje? Um texto católico. Edificar não é construir fachada — é habitar a verdade. Sou mulher. E sei, com uma certeza amadurecida na oração e na vida, que não fui chamada por Deus a fingir paz onde há guerra, a forjar sorrisos enquanto o coração sangra, ou a sustentar uma “casa” que é apenas uma ilusão de estabilidade. A mulher sábia edifica — mas não mente. Não veste a fé como um disfarce social, nem a paciência como instrumento de repressão interior. Edificar é construir sobre a rocha. E a rocha é Cristo, a Verdade. Sem verdade, não há sabedoria — há só conveniência. Na minha casa, opto por viver com a coragem de quem não mente para agradar. De quem não disfarça sentimentos para preservar aparências. Porque mentir em nome da paz é colaborar com o colapso futuro. A mulher sábia sabe esperar — mas não manipula. Sabe acolher — mas não se anula. Sabe silenciar — mas não pactua com abusos. A sabedoria não é submissã...

Lidando com a comparação entre mulheres.

 Já não me comparo: a liberdade de ser quem Deus sonhou. Faz muito tempo que não me comparo. Não foi sempre assim — e talvez por isso saiba o valor exacto desta conquista interior. A comparação era uma sombra silenciosa que se colava a mim sempre que olhava para outras mulheres: mais bonitas, mais eloquentes, mais sábias, mais ousadas, mais espirituais, mais bem-sucedidas. Havia nelas algo que me diminuía, ou assim pensava. Mas Deus foi desatando os nós, um a um. Hoje, agradeço profundamente conhecer mulheres maiores do que eu. Com dons que não tenho, com caminhos que não sigo, com luzes que me inspiram. Não me intimido — aprendo. Não me escondo — acolho. Não invejo — louvo. Aprendi a ver com os olhos da fé. E isso mudou tudo. Deus não se repete — e eu sou irrepetível. Há um erro muito antigo e muito moderno: o de pensar que o valor de uma mulher se mede por comparação. Como se existisse um molde perfeito, um padrão universal, uma régua invisível que hierarquiza quem somos com base...

Ansiedade e Fé: Como Conciliar?

Sou mulher. Sou católica. Sinto no íntimo da minha alma o combate entre a inquietação do coração e o chamamento à paz que Cristo oferece. A ansiedade, esse peso que aperta o peito quando o futuro nos parece incerto, a voz sussurrante do medo que ecoa nos corredores da mente — tudo isso pode parecer incompatível com a fé. Mas a fé não é anestesia: é chama viva que nos ensina a encarar os medos e a transformar o medo em confiança. O mandamento de Jesus: “Não vos inquieteis…” As palavras de Cristo em Mateus 6:25‑34 (“Não vos inquieteis… olhai para as aves do céu… não procurais primeiro o Reino…”) ecoam como profecia para o nosso tempo ansioso. Ele não ignora os temores, mas orienta-nos a elevar os olhos para Aquele que provê. São Francisco de Sales afirmava que a ansiedade, após o pecado, é o maior mal da alma — porque perturba a paz necessária para resistir às tentações e manter as virtudes. A confiança que unge o coração — a sabedoria de Santo Tomás. São Tomás de Aquino ensinou que enf...

A Força da Mulher Segundo a Bíblia

Sou mulher. Sou católica. E creio, com toda a convicção do meu coração, que a minha força não é um mero atributo humano — é dom divino, vocação e missão. A Bíblia, longe de silenciar-nos, revela-nos como protagonistas da história da salvação. Na fragilidade aparente do mundo, fomos forjadas para ser fortes — não para dominar, mas para edificar. Não para sermos centro de culto, mas para irradiarmos vida com a beleza da nossa entrega. Fomos forjadas para ser fortes, sim — com fibra espiritual, coragem emocional, generosidade sobrenatural. Mas não fomos chamadas ao sacerdócio ordenado nem à liderança litúrgica da Igreja. Jesus escolheu doze homens para o colégio apostólico, e fê-lo não por acaso cultural, mas segundo a vontade soberana do Pai. Na fidelidade à Tradição, a Igreja Católica acolhe este desígnio como expressão do plano divino, não como negação da dignidade feminina, mas como distinção de missão. Não somos menos por isso. Somos chamadas a ser mães espirituais, testemunhas da fé...

Propósito: Fui Criada Para Algo Maior

 Sou mulher. Sou filha de Deus. E sinto, no mais íntimo do meu ser, que não nasci por acaso — nasci para algo maior. Desde menina senti uma atração quase magnética por perguntas maiores: Quem sou eu, para onde vou? Por que persiste este anseio de significado que às vezes me faz inquieta, mesmo em tempos de paz? Como católica, aprendi desde cedo que não somos fruto do acaso, mas da vontade criativa de um Deus que nos pen­sou antes de nas­cer. A teologia, a história das religiões e o desenvolvimento da tradição cristã sempre reconheceram esta vocação humana à transcendência: somos chamados à comunhão com o Criador, somos es­trelas na Causa primeira. Mas este propósito não é abstração: é chama acesa dentro de cada dia que vivemos. Fui criada para amar — mais do que existir. A existência humana não se esgota na repetição do quotidiano. Fui criada para amar. Mais do que simplesmente existir, fui convidada a refletir o amor divino. Amor que se dá, que edifica, que perdoa, que é fonte de ...