Como manter a fé quando tudo diz o contrário
Há momentos em que a fé não é uma resposta fácil, nem uma emoção doce, nem sequer uma luz visível. Há momentos em que crer é um acto de resistência interior. Um grito mudo contra todas as evidências. Um permanecer de pé quando tudo à volta está em ruínas. E foi exactamente nesses momentos que percebi que a fé não é um sentimento — é uma decisão.
Já me vi em situações onde tudo gritava contra a promessa. Onde o “Deus é bom” parecia uma frase bonita — mas o mundo à minha volta parecia desmenti-la. Onde a oração ecoava no vazio. Onde os milagres aconteciam… mas na vida dos outros.
E ali, naquela dor concreta, comecei a aprender o que significa verdadeiramente acreditar.
A fé que permanece quando o chão desaparece.
Não é difícil acreditar quando tudo corre bem. O verdadeiro desafio é confiar quando o invisível parece ausente. Quando a saúde falha. Quando os laços se quebram. Quando os sonhos morrem. Quando Deus parece calado.
Mas foi no silêncio, não no ruído, que ouvi mais claramente a Sua presença. Não com os ouvidos, mas com o espírito. Percebi que a fé não me foi dada para me poupar da dor — mas para me sustentar dentro dela.
Fé é seguir mesmo sem mapa.
É orar mesmo sem resposta.
É amar mesmo sem retorno.
É levantar-me quando nada justifica que eu continue de pé — senão Deus.
Quando tudo diz “não”, Deus ainda diz “Eu Sou”.
Aprendi a distinguir as vozes: a da dúvida, a do medo, a da cultura, até a da minha própria insegurança. Todas gritam: “Desiste”. Mas no fundo da alma, uma voz firme, calma e doce diz: “Confia em Mim”.
A fé não é fazer de conta que tudo está bem. A fé é olhar para o caos e declarar: “Mesmo assim, Deus continua a ser Deus”.
Foi essa convicção que me segurou quando a vida tentou desmontar a minha dignidade. Quando fui rejeitada por mentiras, difamada, apagada. Quando alguns usaram máscaras de piedade para esconder o veneno do orgulho. Fiquei seletiva, sim. Mais cautelosa. Até antagonista em relação a certas posturas e profissões. Mas não fechei o coração — apenas demoro mais tempo a confiar, a ver se a alma da outra pessoa é verdadeira.
Porque manter a fé não é ser ingénua. É ser inteira.
Fé não é força fingida — é entrega radical.
Há quem pense que fé é não chorar. Que é sorrir mesmo quando a alma grita. Mas fé não é teatro. Fé é ajoelhar-me com lágrimas e dizer: “Senhor, estou aqui. Toda. Quebrada. Mas Tua.”
Jesus nunca prometeu ausência de cruz. Prometeu presença no caminho.
Prometeu Graça.
Prometeu eternidade.
E foi essa promessa que me deu forças quando me faltava o fôlego. Não para fingir que não doía. Mas para atravessar a dor com dignidade. E descobrir, no meio da noite escura, que a Luz não é sempre visível, mas é sempre real.
A fé não muda as circunstâncias — muda-me a mim.
Pedi a Deus que mudasse os acontecimentos. E Ele, muitas vezes, não mudou. Mas mudou-me. Refinou-me. Corrigiu-me. Fortaleceu-me. Tornou-me mais sábia, mais sensível, mais firme e mais livre.
A fé transformou o meu olhar: do desespero para a esperança. Da ansiedade para a confiança. Do controlo para a entrega.
E assim, quando tudo diz “acabou” — a fé sussurra: “recomeça”.
Continuar a crer é um acto de amor.
Quando amo alguém, acredito nela mesmo quando falha. Mesmo quando não entendo. Assim é com Deus. A fé é esse amor fiel que não desiste, mesmo quando não entende.
Eu não creio porque vejo.
Creio porque conheço quem Deus é.
Mesmo quando a vida me nega respostas, conheço o Seu carácter.
Ele é Bom.
Ele é Fiel.
Ele é Pai.
E se Ele permite que eu passe por noites sem luar, é porque quer formar em mim uma mulher que brilha mesmo quando a luz natural desaparece.
Conclusão:
A fé verdadeira não é ilusão — é alicerce.
Hoje sei: a fé é o que me impede de naufragar nos dias maus.
É a âncora da minha alma.
É a ponte entre o agora e o eterno.
É a voz que me diz: “És filha. E isso basta.”
Por isso, mesmo quando o mundo diz que não faz sentido…
Mesmo quando tudo parece perdido…
Mesmo quando a alma se arrasta…
Eu permaneço.
Porque a fé não é uma resposta emocional — é uma decisão espiritual.
E eu decido confiar.
Hoje.
Sempre.
Mesmo quando tudo diz o contrário.