Lidando com a comparação entre mulheres.

 Já não me comparo: a liberdade de ser quem Deus sonhou.

Faz muito tempo que não me comparo.

Não foi sempre assim — e talvez por isso saiba o valor exacto desta conquista interior. A comparação era uma sombra silenciosa que se colava a mim sempre que olhava para outras mulheres: mais bonitas, mais eloquentes, mais sábias, mais ousadas, mais espirituais, mais bem-sucedidas. Havia nelas algo que me diminuía, ou assim pensava.

Mas Deus foi desatando os nós, um a um.

Hoje, agradeço profundamente conhecer mulheres maiores do que eu. Com dons que não tenho, com caminhos que não sigo, com luzes que me inspiram. Não me intimido — aprendo. Não me escondo — acolho. Não invejo — louvo.

Aprendi a ver com os olhos da fé. E isso mudou tudo.



Deus não se repete — e eu sou irrepetível.

Há um erro muito antigo e muito moderno: o de pensar que o valor de uma mulher se mede por comparação. Como se existisse um molde perfeito, um padrão universal, uma régua invisível que hierarquiza quem somos com base em critérios alheios à nossa alma. Mas Deus não cria cópias. Deus não faz duplicados. Deus gera originais.

E eu sou uma. Irrepetível. Com uma missão que ninguém mais pode viver.

Comparar-me com outra mulher é como comparar o sol com a lua — diferentes, e ambas necessárias. É como julgar um salmo pela lógica da matemática. É como querer que as flores do campo floresçam todas na mesma estação. Deus trabalha com beleza, não com padrão.



Ser forte sim, ser líder espiritual não — Deus escolheu homens.

Fomos forjadas para ser fortes. Em corpo, em mente, em alma. Somos capazes de suportar a dor, a espera, o luto, a maternidade, a escuta, a entrega. Mas ser forte não significa ser tudo.

Na minha fé católica, sei — com clareza, com obediência e sem ressentimento — que a liderança sacramental da Igreja foi confiada por Cristo aos homens. Ele escolheu doze apóstolos, não por acaso, mas por desígnio divino. Isso não me rebaixa. Ele não me ama menos. A minha missão não é o altar — é o mundo. É a casa. É o coração das feridas. É o ventre da esperança.

Reconhecer isso não é submissão. É sabedoria. É fidelidade à ordem divina que me ultrapassa.

A mulher não lidera o culto, mas sustenta a fé. Não preside à Eucaristia, mas gera santos.



Comparar é medir — e amar não é medir.

A comparação é um gesto da mente. O amor é um gesto do coração.

Enquanto me comparava, era escrava de uma lógica mundana. Achava que valia mais se fosse mais.

Mas quando deixei Deus ser o espelho — e não as outras mulheres — tudo mudou.

Deus não me compara. Ele contempla. Ele vê-me inteira, sem filtros, sem méritos, sem máscaras.

A comparação mede. O amor vê. E Deus vê-me — e ama-me.



A mulher que sou… e aquela que ainda espero ser.

Hoje, gosto da mulher que sou. Não com vaidade, mas com paz.

Aceito os limites, abraço os dons, cultivo o que falta com esperança.

Sei o quanto caminhei. Sei o que já me doeu. Sei o quanto Deus já me curou.

Mas ainda não cheguei. Ainda não sou tudo. Ainda espero mais. Ainda sonho crescer. Ainda me deixo moldar.

A vida cristã não é estática — é um caminho, um êxodo, uma peregrinação interior.

E por isso, repito a cada dia: “Senhor, faz-me ser quem sonhaste quando me criaste.”



Quando outras mulheres brilham, eu dou graças.

Um dos maiores sinais de maturidade espiritual é este: a capacidade de alegrar-me com o brilho da outra.

Sem sentir-me apagada. Sem ressentimento. Sem medo.

Quando vejo uma mulher sábia, louvo a Deus.

Quando escuto uma amiga que fala com unção, dou graças.

Quando leio o testemunho de quem vive com coragem, não me comparo — aprendo.

Porque sei quem sou. E sei a quem pertenço.



A comparação gera ansiedade — a fé gera descanso.

A comparação alimenta a ansiedade.

A ansiedade de ser melhor. A ansiedade de ser mais.

De ser o que os outros esperam. De estar à altura.

Mas a fé tranquiliza.

A fé devolve-me à verdade mais profunda:

Não preciso ser como ninguém. Preciso apenas ser como Deus me criou.

Com tudo o que sou. Com tudo o que ainda não sou. Com tudo o que Ele está a fazer em mim.



A mulher cristã não compete — oferece-se.

A mulher cristã é aquela que vive no amor.

E quem ama não compete. Quem ama não mede. Quem ama não imita — oferece-se.

Ofereço o meu tempo. A minha escuta. A minha presença. A minha oração.

E ofereço, também, o reconhecimento das outras. A honra dos dons das outras.

Porque não ganho nada se a outra perder. E não perco nada se a outra for maior.



Sou filha. E filhas não disputam o trono do Pai.

Sou filha. E isso basta.

Filhas não disputam. Não mendigam. Não se atropelam.

Filhas confiam. Esperam. Recolhem-se no regaço do Pai e sabem: há lugar para todas.

Na Casa de Deus, ninguém ocupa o lugar de ninguém.

Cada mulher tem o seu canto, o seu chamado, o seu jardim.

E todas florescem — não em simultâneo, mas em plenitude.



Conclusão: 

Já não me comparo. Amo, acolho, espero. E sigo.

Já não me comparo.

Porque descobri que a comparação é ruído — mas a gratidão é música.

Hoje, celebro a mulher que sou.

Com feridas, com força, com fé.

E celebro também as mulheres que admiro, que me elevam, que me ensinam.

Porque juntas, sem competir, somos o Corpo. E o Corpo precisa de todos os seus membros.

Deus, que me criou única, chama-me a ser inteira. E essa inteireza é caminho.

Um caminho de silêncio, de humildade, de confiança — e de profundo amor.

Hoje não me comparo. Hoje bendigo.

E sei que ainda serei mais — porque Deus ainda não terminou em mim.

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