Milagres Diários Que Não Vês — A Graça que Silencia o Óbvio

 Sou mulher.

Sou crente.

Sou católica.

E quanto mais caminho na fé, mais compreendo que os maiores milagres de Deus não explodem no céu em luzes cintilantes, nem tombam da nuvem em tons de glória.

Os maiores milagres, os mais assombrosamente reais, são diários, silenciosos, quase imperceptíveis.

E é precisamente por isso que passam despercebidos — porque Deus, quando quer tocar-nos profundamente, raramente faz ruído.

Hoje escrevo para ti, mulher como eu, talvez cansada, talvez dorida, talvez numa dessas fases em que nada parece acontecer…

Mas onde tudo está a acontecer no invisível.

Escrevo-te para que abras os olhos — não os do rosto, mas os da alma.

Para que percebas que estás cercada de milagres. E tu mesma és um.



O milagre de continuar viva, sem saberes como.

Quantas vezes já te questionaste: “Como é que ainda estou de pé?”

Após dores, perdas, decepções, acusações falsas, injustiças…

E, no entanto, não te quebraste.

Esse é o primeiro milagre:

Estás viva. Inteira. Respirando. Crendo.

Mesmo quando tudo te dizia que era o fim.

A ciência pode explicar o corpo.

Mas não explica a alma que resiste.

Nem o coração que recomeça.

Nem a fé que insiste.



O milagre da providência sem anúncio.

Há contas pagas que não sabes como foram resolvidas.

Há portas que se abriram quando já estavas a desistir.

Há pessoas que apareceram com palavras certeiras, num dia em que nem pediste ajuda — apenas choraste baixinho no carro ou diante do Santíssimo.

Esse é o milagre de um Deus que vê em segredo.

Um Deus que age fora dos teus olhos, mas nunca fora da tua vida.



O milagre das conversas que te resgatam.

Recordo-me de frases simples, em dias pesados, que me salvaram do precipício:

— “Estive a rezar por ti.”

— “Deus não se esqueceu de ti.”

— “Tu és mais do que isso que estás a sentir.”

— "Eu sei que estás a falar a verdade, acredito em ti."

— " Vou estar ao teu lado a segurar a tua mão."

Foram ditas por pessoas que, provavelmente, nem imaginaram o alcance das suas palavras.

Mas Deus sabia.

E usou-as.

Milagres não são sempre curas físicas.

Às vezes são palavras que te impedem de morrer por dentro.



O milagre da lágrima que vira oração.

Há choro que purifica.

Há dor que se transforma em intimidade com Deus.

E há lágrimas que não são perda — são parto.

De uma nova fé. De um novo eu. De um novo caminho.

Chorar diante de Deus é um acto de confiança.

E confiar, quando tudo parece desabar, é um milagre interior de proporções eternas.



O milagre da lucidez depois da queda.

Fui rejeitada.

Difamada.

Acusada de mentiras.

E observei o modo cruel como alguns — inclusive religiosos — se aproveitaram disso para apagar, silenciar, excluir os mais incautos, eu ponderei e Deus me levou pelo caminho certo.

Foram tempos escuros.

E por um tempo, sim, tornei-me mais dura, mais desconfiada, até antagonista com certos rostos e funções.

Mas sabe o que é milagre?

Continuar a amar. Mesmo depois de tudo.

Demorar mais, sim. Observar mais, claro.

Mas não fechar-me à graça.

Permaneço aberta — com discernimento, não com ingenuidade.

E essa abertura, depois da violência, é milagre.



O milagre de não perder a esperança num mundo confuso.

Num tempo onde o ruído substitui o silêncio, onde a vaidade tenta imitar fé, onde a manipulação religiosa cresce com estratégias humanas...

É milagre permanecer fiel ao Evangelho puro.

Acreditar ainda em Deus quando tantos o usam para controlo, culpa ou medo.

Vejo igrejas que repetem palavras não para salvar, mas para forçar.

Vejo lideranças que confundem autoridade com abuso.

Vejo o nome de Deus usado para aprisionar.

E ainda assim, acredito.

Porque sei distinguir o Deus que me ama do sistema que me controla. 

Esse discernimento, essa lucidez, essa liberdade interior — é milagre.

Milagre de maturidade espiritual.

Milagre da Verdade que o Espírito Santo faz crescer dentro de nós, mesmo quando tudo à volta é confuso.



O milagre de continuar a ver beleza.

Há beleza em ver a ternura num idoso.

A esperança nos olhos de uma criança.

A humildade numa mulher que se ajoelha para rezar.

Ver beleza é um milagre num mundo que nos treina para ver defeitos.

E todos os dias, se os teus olhos estiverem limpos, verás pequenos sinais da glória de Deus escondida no comum.



O milagre de seres tu — uma mulher que ainda crê, sente, ama.

Tu és um milagre.

Não porque és perfeita, mas precisamente porque, sendo imperfeita, permaneces fiel.

Tu és um milagre cada vez que escolhes não revidar com ódio.

Cada vez que não te tornas igual aos que te magoaram.

Cada vez que rezas quando poderias maldizer.

Cada vez que acolhes quando poderias desconfiar.

Cada vez que permaneces.

És milagre porque permaneces.



O Milagre Deste Texto, Para Mim.

Este texto, embora escrito por mim, vive também dentro de mim.

Porque o milagre não é apenas o que ele descreve — é o facto de ele existir.

O milagre deste texto é a escuta silenciosa de Deus na alma de quem escreve e de quem lê.

É esta ponte de sentido, criada entre duas mulheres que talvez nunca se encontrariam fisicamente — e, no entanto, reconhecem-se no íntimo do invisível.

O milagre está no facto de esta linguagem — densa, poética, acutilante e serena — ainda ter espaço num mundo tão acelerado.

É poder falar de graça sem ter que explicar tudo.

É poder tocar o mistério com palavras humanas e, mesmo assim, não o reduzir.

O milagre deste texto é também o reconhecimento da inteligência espiritual da mulher católica que o inspira.

É ver que ainda há mulheres que não querem fórmulas vazias nem emocionalismo superficial, mas alimento sólido, raiz teológica, reflexão madura.

O milagre é ver fé com lucidez, emoção com sobriedade, espiritualidade com razão — e tudo isso num coração só.

O milagre é esta sede de Deus sem ruído, sem espetáculo, sem manipulação.

É esta entrega honesta e profunda que diz:

“Sou ferida, mas fiel. Rejeitada, mas aberta. Silenciada, mas ainda a louvar.”

O milagre é que a tua dor, a tua força, a tua fé — quando escritas — não se perdem: transformam-se em oração.

E oração escrita, quando nasce da verdade, não é apenas texto — é liturgia íntima.

Finalmente, o milagre deste texto, para mim, é a revelação de que a fé ainda pode ser bela, digna, livre e pensada — sem perder a alma.

Que é possível ser profundamente católica sem se render a estruturas que abafam o espírito.

E que é possível crer sem mentir, amar sem fingir, esperar sem ilusão.

Esse é o milagre:

Uma mulher inteira, com voz, com coração, com fé — a erguer-se diante do mundo e dizer com leveza e firmeza:

“Eu sou milagre. E vejo milagres onde antes via apenas silêncio.”

E tu… queres continuar a nomeá-los comigo?

Espero que sim!


Conclusão: 

A Vida é Milagre Quando a Vês com Olhos de Céu.

Agradeço a Deus não apenas pelos milagres visíveis — mas pelos invisíveis, escondidos, ignorados.

Porque a fé que sobrevive aos dias comuns é fé autêntica.

E só quem aprendeu a ver Deus no invisível pode reconhecer a sua mão no extraordinário.


Hoje, agradeço:

– Pela paz inexplicável numa noite difícil.

– Pela força que surge quando estou prestes a desistir.

– Pela luz que resiste quando o mundo se obscurece.

– Pela capacidade de continuar.

– Por continuar a ver.

– Por continuar a amar.

Não é sorte. É graça.

Não é coincidência. É milagre.

E esse milagre… sou eu.

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