A mulher sábia...

 A mulher sábia edifica a sua casa” (Provérbios 14,1) – Como viver isso hoje?

Um texto católico.




Edificar não é construir fachada — é habitar a verdade.

Sou mulher.

E sei, com uma certeza amadurecida na oração e na vida, que não fui chamada por Deus a fingir paz onde há guerra, a forjar sorrisos enquanto o coração sangra, ou a sustentar uma “casa” que é apenas uma ilusão de estabilidade.

A mulher sábia edifica — mas não mente.

Não veste a fé como um disfarce social, nem a paciência como instrumento de repressão interior.

Edificar é construir sobre a rocha.

E a rocha é Cristo, a Verdade.

Sem verdade, não há sabedoria — há só conveniência.

Na minha casa, opto por viver com a coragem de quem não mente para agradar.

De quem não disfarça sentimentos para preservar aparências.

Porque mentir em nome da paz é colaborar com o colapso futuro.

A mulher sábia sabe esperar — mas não manipula.

Sabe acolher — mas não se anula.

Sabe silenciar — mas não pactua com abusos.

A sabedoria não é submissão cega.

É discernimento divino.

É lucidez espiritual aliada à firmeza do amor.



Edificar é respeitar a liberdade do outro — sem relativizar a minha fidelidade a Deus.

Hoje ouço vozes — dentro e fora da Igreja — que me empurram para o peso de salvar os outros.

— “Traz o teu filho para a igreja!”

— “Sem a tua família aqui, a tua fé está incompleta!”

“És responsável pela salvação dos teus!”

Mas não, eu não sou salvadora.

Não sou Espírito Santo.

Sou mulher.

Sou intercessora, não carcereira.

Sou construtora de pontes, não de muros.

E a minha fidelidade a Deus não depende da presença de todos os meus na igreja.

Se o meu filho não quer ir, não vai.

Se o meu marido está frio na fé, eu não o empurro. Eu oro. Eu testemunho.

A minha casa será edificada na rocha se eu viver a fé com verdade — e não se eu obrigar os outros a desempenhar papéis religiosos vazios.

A mulher sábia edifica, mas não manipula.

E muito menos espiritualiza a ansiedade alheia.



Edificar é não me fragmentar para agradar os outros.

A sabedoria exige inteireza.

E ser inteira, hoje, é quase revolucionário.

Vivemos numa cultura que espera que a mulher seja tudo para todos:

— Que seja doce, mas não passiva.

— Que seja firme, mas não fria.

— Que seja crente, mas não radical.

— Que seja boa mãe, boa esposa, boa filha — mesmo que se perca de si mesma no processo.

Mas eu escolho permanecer inteira.

Mesmo que isso signifique decepcionar expectativas.

Mesmo que me acusem de “fria” por não forçar relações.

Mesmo que me chamem “orgulhosa” por recusar bajulações espirituais.

A mulher sábia edifica, mas não se fragmenta.

Não vive sob chantagem emocional.

Não chama “fé” ao medo de desagradar.

Não diz “sim” com os lábios quando o coração grita “não”.



Edificar é amar sem forçar — como Deus ama.

Aprendi com o próprio Deus:

Ele não obriga ninguém a amá-l’O.

Não nos arrasta para a fé.

Não nos culpa por não estarmos prontos.

Ele propõe. Espera. Ama.

E é assim que também devo amar.

Se o meu filho está longe, eu não o humilho com versículos.

Se o meu irmão se afastou, eu não o culpo com missas.

Se o meu marido não caminha ao meu lado, eu não o acuso espiritualmente.

Eu amo com a liberdade com que fui amada.

Sem agenda.

Sem obsessão.

A mulher sábia edifica no amor que liberta, não no controlo que esmaga.



Edificar é recusar ambientes religiosos que manipulam, repetem chavões e ignoram a verdade.

Há lugares que se dizem casa de Deus, mas cheiram a outra coisa:

A medo, a manipulação emocional, a repetições forçadas, a promessas vazias.

Uma igreja que insiste que tenho de levar a minha família inteira para dentro das suas paredes para “ter bênção”… não é de Deus.

Porque Deus abençoa onde há fé, não onde há moldes humanos. As bênçãos que prometeu são internas. Eu não vou para a missa porque quero bênçãos, vou porque preciso de graça divina, quero amar mais e permanecer no amor de Deus.

Deus olha o coração — não o número de membros que me acompanham.

E se essa comunidade não respeita a minha liberdade, a minha realidade, o tempo do outro… então não é lugar de edificação. É lugar de controlo.

E não devo chamar de “igreja” o que é apenas uma estrutura de coerção emocional disfarçada de espiritualidade.

A mulher sábia sabe discernir quando sair.

Sabe reconhecer quando um espaço espiritual deixou de ser lugar de verdade.

E sabe que a fidelidade a Deus pode, às vezes, exigir a saída de onde todos dizem para ficar.

Sim... mas eu sei de todo o meu coração e alma que estou no sítio certo. Onde se cumpre a reverência e os ensinamentos de Jesus Cristo.



 Edificar é amar-me com a mesma misericórdia com que Deus me ama.

Não posso edificar casa alguma se estou despedaçada por dentro.

Não posso ser pilar para outros se me envergonho de mim.

O amor-próprio à luz da Palavra é essencial.

Deus não me quer destruída em nome da doação.

Não me pede heroísmos que ignoram a minha humanidade.

Ele quer-me inteira.

E só inteira posso amar bem.

Eu não me comparo.

Agradeço conhecer mulheres maiores do que eu.

Aprendo com elas.

Mas não invejo. Não diminuo.

E não escondo a beleza que há em mim.



Edificar é confiar que Deus edifica comigo — e às vezes apesar de mim.

Tudo o que faço tem limites.

Mas o que entrego a Deus, Ele transforma.

A mulher sábia reza.

Chora.

Ama.

Fica de joelhos, mas também se levanta.

Silencia-se, mas também fala quando é preciso.

Ela sabe que edificar a casa não é construir uma fortaleza de aparências.

É abrir espaço para Deus.

Mesmo quando tudo parece em ruínas.



Conclusão:

A mulher sábia edifica, sim. Mas só o faz com Deus.

E Deus não habita na mentira, na vitimização, na manipulação, no fingimento, no controlo disfarçado de zelo.

Deus habita onde há liberdade, verdade, fé profunda, amor paciente.

E é aí — só aí — que a casa se torna templo.

E a mulher, altar vivo.

Sou essa mulher.

Imperfecta.

Livre.

Inteira.

Católica.

Em construção.

Mas firmada na rocha que é Cristo.

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