Cicatrizes que viram testemunhos, não para propaganda em ambão mas para os que Deus nos coloca no caminho.

 Durante muito tempo, tentei esconder as minhas feridas. Achei que as partes partidas da minha história me diminuíam, que expor os meus fracassos seria um escândalo, e que os outros — e até Deus — só poderiam amar as versões mais perfeitas e arrumadas de mim.

Mas o Evangelho não é feito de aparências.

O Evangelho é carne rasgada, cruz carregada, lágrimas derramadas e glória redentora.

E foi aí que entendi: as minhas cicatrizes não são sinais de derrota — são testemunhos da fidelidade de Deus.



As feridas que se tornam sagradas.

Não foram os momentos bonitos que me transformaram — foram os dias em que fui ao chão. Foram as rejeições, as traições, os silêncios cortantes, as injustiças sem defesa. Foram as madrugadas em que chorei sozinha e só tinha a Deus por companhia. E nesses dias, Deus não me tirou da dor — mas entrou nela comigo.

A minha alma foi rasgada em muitos lugares. Por palavras cruéis, por julgamentos injustos, por acusações mentirosas. Fui apontada, mal interpretada, silenciada. E em certos momentos, senti que estava a perder a luz, a dignidade, a voz. Fui rejeitada por razões falsas, e durante muito tempo desconfiei do humano. Fechei portas. Ergui muros.

Mas foi aí que descobri que há feridas que, quando cicatrizam em Deus, se tornam sagradas.

E passam a falar por nós, mesmo quando já não temos força para explicar.

A mulher que emerge da dor já não é a mesma — é mais inteira

Cada cicatriz é um altar onde Deus operou algo que ninguém viu.

É um ponto de reencontro entre a minha fraqueza e a graça divina.

Hoje, olho para cada marca e vejo nelas não a destruição, mas a reconstrução.

Sou mulher, esposa, crente, pecadora perdoada. Vivi dores profundas que me tornaram seletiva — sim, tornei-me mais cautelosa. Demoro mais a confiar. Observo mais, falo menos. Mas não me tornei amarga.

Continuo aberta a amar. Continuo inteira. Continuo a esperar o melhor, mas agora com discernimento a sensatez e sabedoria do espírito Santo.

O meu coração continua acolhedor — apenas mais sábio.

Não é um coração frio — é um coração forjado no fogo.



Deus não apaga cicatrizes — dá-lhes propósito.

O mundo quer esconder os seus fracassos. Deus transforma-os em testemunhos, não testemunhos de propaganda, não para aplausos ou para serem exibidos perante uma comunidade de forma a manipular. Não são testemunhos meus e de quem Deus coloca no nosso caminho. Deus encontrasse comigo no silêncio em segredo.

O mundo quer mostrar vitórias. Deus exibe redenções, não para todos para aqueles que necessitam ver, os que tem a sente já a germinar.

Ele não precisa que sejamos perfeitas — precisa que sejamos verdadeiras.

E cada marca, cada memória, cada queda superada, cada perdão oferecido, cada recomeço escolhido, é uma página escrita com o dedo d'Ele.

Não somos menos dignas por termos sofrido.

Somos mais preciosas ainda — porque a nossa dor foi atravessada por Ele.



Testemunhar não é contar a vitória — é contar o caminho.

Quando partilho o que Deus fez, não partilho o palco — partilho o vale, numa conversa íntima com quem ele coloca no caminho para ouvir não em palco para aplausos.

Não falo como quem venceu sozinha — falo como quem foi resgatada no fundo do poço.

As cicatrizes falam de guerras que vivi, de batalhas que me formaram, de desertos onde aprendi a confiar.

Falam de um Deus que não desiste de mim, mesmo quando eu já estava a desistir.

Falam de como, em vez de me endurecer, escolhi amar. Em vez de me esconder, escolhi permanecer. Em vez de julgar, escolhi ser compaixão. Em vez de parar de escrever escolhi escrever ainda mais.

Testemunhar é mostrar que a minha história — com tudo o que tem de imperfeito — é solo fértil para a glória de Deus.



Conclusão

As minhas cicatrizes são sagradas.

Hoje, caminho sem medo das minhas marcas.

Não peço desculpa por ter caído, por ter chorado, por ter sangrado.

A minha fraqueza foi o palco da força de Deus. A minha dor foi o útero de uma nova mulher.

E por isso, se vês em mim alguém forte, sábia, serena… não te iludas: há sangue por trás. Há oração. Há luta. Há silêncio. Há entrega. Há fé.

O que me sustenta não é o que sou — é o Deus que me levantou, me limpou, me curou, e me chamou a viver de novo.

E cada cicatriz que carrego é agora um farol para outras mulheres:

Se Ele me restaurou, pode restaurar-te também.

Se Ele me amou no pó, amará também a ti na tua noite.

Se Ele escreveu beleza sobre as minhas ruínas, fará o mesmo com as tuas.

Não escondas as tuas feridas.

Quando forem tocadas pela graça, elas serão o teu maior testemunho que vais partilhar com as pessoas certas no silêncio, no segredo do amor 

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