O Tempo de Deus vs. O Nosso Relógio: Viver a Tensão da Oração e da Espera
Sou mulher.
Sou católica.
E sei que moro em dois tempos: o tempo acelerado do mundo e o tempo profundo da graça que chega no silêncio da alma.
Deus não opera segundo alarmes humanos.
Vivemos num mundo marcado pelo imediatismo: emails respondidos em segundos, planos formulados em meses, promessas espirituais vendidas em tempos de entrega.
Mas a Palavra diz claramente:
“Para tudo há tempo debaixo do céu. Há tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de chorar e tempo de rir…” (Ecl. 3,1‑4)
Deus não se escraviza às nossas agendas.
Ele não assume o nosso ritmo frenético.
Ele não atende à urgência dos nossos medos.
Deus opera na paciência da eternidade.
Na quietude da espera.
Na certeza de que o tempo d'Ele não falha.
Enquanto o meu relógio me manda acelerar, Ele me convida a desacelerar:
“Espera em mim. É aqui, no vazio do tempo humano, que Eu te encontro.”
O nosso relógio cria ansiedade — o tempo de Deus gera fé.
Há dias em que o coração trabalha como uma máquina inquieta:
— “Quando é que casarei?”
— “Quando é que os meus filhos voltarão à fé?”
— “Quando vou encontrar propósito, segurança, paz?”
Este tipo de perguntas nasce do medo de sermos esquecidas.
Mas a ansiedade é fruto do relógio humano, não da confiança espiritual.
Deus não dá prazos.
Deus dá promessas.
E a mulher sábia espera sem desesperar.
Ela não pergunta “quando?”, mas diz:
“Senhor, sei que o Teu tempo é perfeito; eu confio no Teu cuidado.”
Vivendo entre o hoje humano e o amanhã divino.
Sou chamada a viver o hoje — com responsabilidade, com ação, com presença.
Mas com os olhos fixos n'Ele.
Mesmo quando o amanhã parece vazio.
Mesmo quando não vejo sinais.
A mulher sábia trabalha no hoje — ama os seus, cumpre o seu dever, ora sem cessar —
mas sabe que o fruto, por vezes, só brota na estação de Deus.
E aceita não ter contrôle sobre a colheita.
Este discernimento exige coragem:
— Saber esperar o filho que se afasta,
— Aguardar o momento em que o trabalho espiritual faça sentido,
— Aguardar a reconciliação que ainda não chegou.
Quando aprendi a viver neste intervalo — com gratidão pelas sementes plantadas e humildade diante do que ainda não frutificou — a minha fé cresceu.
Sabedoria não é ignorar o relógio — é reintegrá-lo em Deus.
Não ignoro que vivemos dentro de sistemas, obrigações e responsabilidades.
Não digo que se abandone o cronograma social.
Mas digo que não somos controladas por ele.
Respeito os horários da vida.
Cumpro as tarefas.
Vivo, com dignidade, as exigências humanas.
Mas não permito que o meu relógio dite a minha fé.
Porque a verdadeira sabedoria espiritual reintegra o tempo social ao tempo divino.
Não vivemos fora da história — vivemos dentro dela, com Cristo, mas sabendo que foi Ele quem instaurou o tempo — não o homem.
Testemunhos reais:
Dias de espera transformados em graça.
Recordo os anos em que o silêncio parecia eterno:
— O silêncio de não conceber filhos,
— O silêncio de portas profissionais fechadas,
— O silêncio de relacionamentos que não se renovavam.
Mas foram nestes silêncios que aprendi:
Deus nunca se esquece. Ele só espera que estejamos prontas para o que vem.
E hoje vejo:
— A maternidade nasceu no tempo Dele,
— O chamado profissional foi dado no momento certo,
— O amor reconciliado surgiu quando o meu coração se abriu para a misericórdia.
E tudo aconteceu quando parei de perguntar “quando?” e comecei a dizer:
“Eis-me aqui, Senhor. Tua serva. No tempo que o Teu coração conhece.”
Conclusão: viver entre os ponteiros do relógio humano e o pulso do coração de Deus
O meu relógio me diz para acelerar.
O tempo de Deus me ensina a aquietar.
Entre os ponteiros e o coração divino, escolho ficar de joelhos nas minhas decisões.
Ora, espero, construo — mas sem jamais perder a lucidez da fé que descansa.
Porque sei que:
Deus não falha.
A Sua hora é sempre a hora certa.
E quem O espera com perseverança, descobre que a demora foi o caminho da graça.
Sou mulher.
Sou católica.
E vivo na tensão linda entre o hoje e o futuro eterno.
Mas permaneço firme, inteira, serena.
Porque o meu tempo pertence a Deus.
E no Seu relógio, sou segura.