Como Lidar com a Rejeição Sem me Fechar — Um Caminho de Cura em Deus

 Sou mulher.

Sou católica.

Sou humana.

E conheço a dor da rejeição.

Conheço-a não de ouvir falar, mas de a ter vivido na carne, nos olhos marejados, nos silêncios cortantes, nas injustiças que ferem com palavras que não disse e gestos que nunca pratiquei.

Fui rejeitada por mentiras.

Difamada.

Denegrida.

Apagaram a minha luz com calúnias, deturpações e aproveitamentos cobardes.

Tentaram roubar-me a dignidade, a integridade, o brilho.

E quase conseguiam.

Porque há momentos em que nos perdemos no meio da lama lançada por mãos que deviam proteger — ou, pelo menos, respeitar.

Fiquei mais seletiva.

Tornei-me, por instinto, uma mulher mais reservada, até algo antagonista com certas profissões e as pessoas que as exercem, pois foram elas que se prestaram ao teatro da destruição moral.

Mas mesmo assim — mesmo assim — não me fechei ao Amor.

Permaneço aberta a acolher e amar.

Demoro mais.

Observo mais.

Sinto mais profundamente o tempo necessário para confiar.

Mas continuo inteira.

E recuso a hipocrisia de me fingir aberta quando ainda estou em reconstrução.

Prefiro a verdade lenta à falsidade apressada.



A rejeição dói porque fomos feitas para comunhão.

Deus criou-nos à Sua imagem — e isso inclui o desejo profundo de sermos vistas, reconhecidas, amadas.

Quando somos rejeitadas, há algo em nós que se quebra.

Não apenas o ego.

Mas a confiança, a inocência, a abertura espontânea.

Sentimo-nos estranhas num mundo que antes nos parecia familiar.

Passamos a medir as palavras, os gestos, o entusiasmo.

E surge a tentação:

Fechar. Desacreditar. Anestesiar.

Mas Deus, que nos conhece no mais íntimo, não nos criou para o fechamento.

Criou-nos para a comunhão.

Não com todas. Não com todos. Mas com quem é verdadeiro.



A cruz de Cristo é o lugar da rejeição mais injusta da história.

Cristo também foi rejeitado — com mentiras.

Foi acusado de blasfémia, subversão, heresia.

Apontado por sacerdotes, governantes e multidões manipuladas.

Ele, o inocente, foi trocado por um criminoso.

E não se defendeu com ódio.

Não construiu muros.

Não se retirou da missão.

Perdoou. E permaneceu inteiro.

A cruz é a escola suprema da integridade.

É ali que aprendo que posso ser rejeitada sem me tornar amargurada.

Posso ser caluniada sem me transformar em instrumento de vingança.

Posso continuar a amar — com discernimento, com vigilância, com liberdade — mas sem perder a minha essência.



A fé é o antídoto contra a auto-proteção que me mata lentamente.

Rejeitada, fui tentada a endurecer.

A erguer muros altos.

A desconfiar de todos.

A generalizar — “são todos iguais”, “nenhum presta”, “nunca mais confio”.

Mas esses muros, que pareciam escudo, tornaram-se cela.

A fé libertou-me.

Não de uma só vez.

Mas pouco a pouco.

Na oração em silêncio.

Na adoração em lágrimas.

Na Palavra que me recordava:

“O Senhor está perto dos corações quebrantados e salva os de espírito abatido” (Salmo 34,19)

Foi em Deus que aprendi a abrir janelas nos muros — não para deixar entrar qualquer um, mas para permitir que entre quem vem em verdade.



Continuar aberta é um ato de coragem, não de ingenuidade.

Hoje, não sou ingénua.

Mas também não sou cínica.

Não me fecho por medo, mas não me entrego sem discernimento.

Ser mulher sábia é esta arte:

Amar sem me anular.

Acolher sem me trair.

Doar-me sem me dissolver.

Perdoar sem esquecer quem sou.

Continuo a amar.

Continuo a acolher.

Mas não à pressa, não por obrigação religiosa, não por teatrinho social.

Demoro-me.

Rezo.

Escuto.

E quando sinto que há verdade, então sim — entrego-me de novo com a inteireza que Deus me deu e nunca pediu para eu deixar, nunca pediu que me dilui-se ou matasse minha essência. 



As rejeições não me definem — forjam-me.

Cada ferida que me tentaram abrir foi, com Deus, transformada numa marca de sabedoria.

Já não me defino por quem me rejeitou.

Nem por quem tentou apagar-me.

Sou quem Deus me fez ser.

Sou a mulher que passou pela lama e continua limpa. Sou um diamante que nasceu da lama, uma flor que nasceu do lixo, e aceito.

Que foi desacreditada e permanece fiel.

Que foi deixada de lado e permanece inteira.

Porque a minha dignidade não é conferida por outros — foi-me dada por Deus.



Testemunhos de santas que viveram rejeição e permaneceram fiéis.

Santa Teresa d’Ávila foi criticada e perseguida pelos seus próprios irmãos religiosos.

Santa Catarina de Sena foi desacreditada pela hierarquia da sua época.

Santa Gema Galgani viveu o desprezo de muitos que não compreendiam a sua união mística.

Santa Maria Goretti foi rejeitada violentamente — e respondeu com perdão radical.

O que têm estas mulheres em comum?

Não deixaram que a dor as deformasse.

Deus foi o seu sustento.

E hoje são faróis de santidade e fortaleza para todas nós.



Conclusão: 

A rejeição é cruz, mas não é túmulo.

Sou mulher.

Fui rejeitada.

Mas não me fechei.

Sou seletiva, sim.

Cuidadosa. Atenta.

Mas não endurecida.

Permaneço vulnerável com quem é verdadeiro.

Permaneço aberta com quem vive em coerência.

Permaneço disposta a amar — não apesar das feridas, mas precisamente porque foram essas feridas que me ensinaram a verdade:

Quem me ama de verdade não me exige máscaras.

Quem me acolhe de verdade não me julga pelas minhas sombras, muito menos pelas sombras alheias.

E quem me respeita de verdade não me apaga — ilumina-me.

Porque sou filha da Luz, mas também das sombras. Com toda a sinceridade e honestidade admito, luto e permanecerei no amor de Deus.

E ninguém me rouba essa herança. E eu aceito a herança.

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