Propósito: Fui Criada Para Algo Maior
Sou mulher. Sou filha de Deus. E sinto, no mais íntimo do meu ser, que não nasci por acaso — nasci para algo maior. Desde menina senti uma atração quase magnética por perguntas maiores: Quem sou eu, para onde vou? Por que persiste este anseio de significado que às vezes me faz inquieta, mesmo em tempos de paz?
Como católica, aprendi desde cedo que não somos fruto do acaso, mas da vontade criativa de um Deus que nos pensou antes de nascer. A teologia, a história das religiões e o desenvolvimento da tradição cristã sempre reconheceram esta vocação humana à transcendência: somos chamados à comunhão com o Criador, somos estrelas na Causa primeira. Mas este propósito não é abstração: é chama acesa dentro de cada dia que vivemos.
Fui criada para amar — mais do que existir.
A existência humana não se esgota na repetição do quotidiano. Fui criada para amar. Mais do que simplesmente existir, fui convidada a refletir o amor divino. Amor que se dá, que edifica, que perdoa, que é fonte de vida e liberdade. Esse amor gera comunidade, música, esperança, arte, acolhimento, cura.
Historicamente, sabe-se que civilizações duradouras nasceram do amor consciente entre pessoas que acreditaram em algo mais amplo que si mesmas. A fé cristã insiste: o propósito não é colmatar o vazio emocional, mas transformar o coração por serviço, por sacrifício, por dádiva. Amar é conduzir o próprio ser para além de si.
Fui criada para transformar — ser luz na escuridão.
O evangelho diz: “Vós sois a luz do mundo.” Não fomos criadas para viver na sombra de ideias, tradições ou pertenças, mas para iluminar— os lugares escuros, as feridas da alma, os gritos silenciosos da injustiça.
A teologia social expressa isso: somos canal de justiça, compaixão e dignidade. O propósito maior não é confortar apenas a nossa alma, mas ser instrumento nas mãos de Deus para o bem comum. Quando caminhamos ao lado dos mais frágeis, dos perdidos, dos marginalizados, descobrimos que fomos feitas para transformar.
Fui criada para aprender — caminhar com sabedoria.
A vida há‑rá escolhas difíceis, quedas inevitáveis, dúvidas profundas. Deus, na Sua sabedoria, escolheu colocar-nos nesse caminho para que cresçamos — não para sermos implacavelmente perfeitas, mas para sermos fiéis à verdade interior que Ele semeou em cada coração.
Filosoficamente, crescemos não pela ausência de queda, mas pela capacidade de reerguer-nos. O propósito maior inclui aprender com o erro, desenvolver empatia, amadurecer o discernimento, aprender a escutar Deus, a escutar o outro.
Fui criada para ser testemunho — viver a minha fé.
A mulher de fé não vive discretamente no seu altar interior: ela testemunha a esperança, a caridade, a resiliência. O propósito maior aparece quando a fé deixa de ser teoria e se torna gesto — presença, oração que é ação, vida que serve.
Na Bíblia, mulheres como Raquel, Ruth, Maria Madalena, Teresa de Ávila, Hildegarda foram chamadas a ter um papel concreto na história da salvação — não meras coadjuvantes, mas faróis em épocas de sofrimento e transformação.
Fui criada para abraçar o mistério — viver com transcendência.
Nem tudo será explicado; nem todos os caminhos serão desvendados. Fui criada para viver com mistério, para permanecer em humildade diante do insondável e aceitar que o propósito maior inclui confiar quando não vejo, amar quando dói, persistir quando tudo parece incerto.
A fé não é garantia de ausência de dor, mas testamento de esperança que se sustenta onde restaria apenas o vazio. E essa confissão de esperança é ela própria uma forma de amor.
Conclusão:
Um propósito que liberta.
Fui criada para algo maior.
Não para me reduzir a máquinas do consumo, nem para encaixar em moldes frios de expectativas humanas. Não para me satisfazer com migalhas de sentido, mas para reclamar o pão inteiro da verdade que radica no ser filha de Deus.
Sou chamada à liberdade que nasce do amor, à responsabilidade que nasce da verdade, à dignidade que nasce da fé. Sou chamada a viver — não para competir, mas para converter, servir, iluminar.
Este é o meu propósito: ser inteira, ser luz, ser caminho. E creio: onde há verdade, há significado; onde há amor, há eternidade; onde há fé consciente, há Reino presente.