Lidando com o medo do futuro: onde o tempo termina e a fé começa

 Sou mulher. E como tantas mulheres silenciosas e fortes, tenho medos que nem sempre confesso.

Talvez por pudor. Talvez por fé. Talvez por sabedoria que se aprende a custo.

Mas há um medo que se insinua subtilmente na alma, mesmo quando tudo à volta parece em paz: o medo do futuro.



Não falo de pânico, de ansiedade descontrolada, de tormento psicológico.

Falo de aquela inquietação serena, mas constante, que nos faz perguntar:

e se tudo mudar?

e se perder?

e se não chegar?

Vivo com fé. Mas a fé, ao contrário do que tantas espiritualidades frágeis pregam, não é anestesia — é resposta.

A fé não me impede de temer o futuro.

A fé ensina-me a habitá-lo antes que ele chegue, com a confiança de quem já foi salva antes mesmo de cair.


O futuro:

Esse lugar onde não cheguei, mas que já me espera em Deus.

O futuro, para mim, não é uma página em branco.

É um território já tocado pela Providência.

Não me pertence, mas já está nas mãos d’Aquele que me teceu no ventre.

Não me é conhecido, mas não é desconhecido para o Pai.

Quando olho para a frente, vejo sombras e possibilidades.

Mas quando olho para trás, vejo milagres diários que antes não percebi.

Vejo portas fechadas que eram salvação.

Vejo silêncios que foram respostas.

Vejo quedas que se tornaram chão firme.

Então aprendi: se o passado é testemunha da fidelidade de Deus, o futuro será o palco da Sua promessa.



A tentação de controlar: 

O ídolo moderno que alimenta o medo.

O mundo grita que eu devo planear tudo, prever tudo, dominar tudo.

Mas isso é idolatria moderna: acreditar que controlar é viver.

A verdade é que, quando tento agarrar o futuro com as minhas mãos humanas, ele escapa-me como areia.

Porque não fui criada para controlar o tempo, mas para viver no Kairós — o tempo de Deus, não o meu.

A nossa cultura detesta a incerteza.

Mas a fé verdadeira floresce no terreno da incerteza.

Não há santidade sem abandono.

Não há liberdade sem entrega.

Não há confiança sem escuridão.

Como lidar com o medo?

Primeiro, aceitando que ele existe.

Não o negando, não o espiritualizando com frases vazias.

Jesus, no Getsémani, sentiu o peso do futuro — e suou sangue.

E o que fez?

Rezou. Chorou. E confiou.

Não mudou o futuro — entregou-se ao Pai.

Depois, aprendi que o medo do futuro se combate com presença real no presente.

Quando cuido do meu lar com amor.

Quando olho nos olhos do meu marido e digo com a maior honestidade " Eu amo-te".

Quando escuto o meu filho com o coração aberto, mesmo sem saber o que virá dele.

Esse é o acto de fé mais radical: viver agora com amor, mesmo sem saber o que vem depois.

Não sou fraca por ter medo. Sou forte porque sigo, mesmo com medo.

Sou mulher. E a minha força não está em prever tudo — está em crer mesmo quando tudo é nebuloso.

A minha sabedoria está em assumir que sou finita — e, por isso mesmo, me entrego a um Deus infinito.

Não temo o futuro porque sei que o Deus que me acompanhou até aqui, não me deixará sozinha a partir daqui.

Sim, ainda há medos.

Mas hoje, quando o medo bate à porta, aprendi a dizer:

“Podes entrar, mas não ficarás. Porque aqui habita a fé. E a fé é a certeza do que ainda não vejo, mas já creio.”

E se vier a dor?

Se vier a dor, virá também a graça de suportá-la.

Se vier a perda, virá também a presença do Ressuscitado.

Se vier a solidão, virá também a mão de Deus a segurar a minha.

Se vier a mudança, virá também a fidelidade d’Aquele que não muda.

O futuro pode vir com o que quiser —

eu já entreguei o meu nome ao Céu.

E Deus não esquece os nomes que Ele próprio escreveu na palma da Sua mão.



Conclusão: 

Onde termina o medo, começa a confiança.

Hoje, como mulher católica, não nego o medo do futuro.

Mas não deixo que ele dite os passos da minha alma.

O meu relógio é limitado, mas o tempo de Deus é eterno.

E onde o tempo de Deus toca, a paz floresce — mesmo entre lágrimas.

Não viverei refém daquilo que ainda não aconteceu.

Viverei na liberdade de quem sabe que tudo o que me acontecer — será para a minha salvação.

Porque fui criada para algo maior do que o medo.

Fui criada para amar, confiar, edificar, esperar — com os olhos fixos em Cristo.

E onde Ele está, o futuro já está ganho.

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