Encontrei
Encontrei. Ou melhor, reencontrei aquilo que já tinha achado, algures entre um silêncio cúmplice e uma madrugada insone: uma paz tão íntima que chega a parecer indecente confessá-la em voz alta. Mas não pensem que foi um caminho iluminado por epifanias suaves. Nada disso. Foi preciso atravessar corredores escuros da alma, ouvir vozes que criticavam com a mesma facilidade com que respiravam, que julgavam sem pestanejar, que mentiam com a tranquilidade quase artística de quem mente tanto que já não distingue invenção de verdade. Por momentos, quase invejei essa leveza de quem inventa a realidade a gosto. Quase. Deixei que me toldassem, admito. Cedi ao peso do que esperavam que eu fosse, perdi noites a tentar compreender por que motivo alguém investe tanto tempo a tecer narrativas sobre a vida dos outros. E depois percebi: há quem se alimente da desgraça alheia como quem mastiga distraidamente uma pastilha. Faz parte do equilíbrio cósmico – sempre haverá quem respire melhor quando consegu...