Fé para acreditar em si mesma de novo
Há momentos na vida em que o eco da nossa própria voz se perde.
Momentos em que deixamos de reconhecer o reflexo no espelho, ou em que o brilho dos nossos olhos se esconde sob o cansaço, a crítica, o erro ou o abandono.
Momentos em que as certezas que antes habitavam o peito, dão lugar ao silêncio duro da dúvida.
E foi num desses momentos que me vi — sem chão, sem força, e, o mais doloroso, sem fé… em mim.
Sim, porque há perdas invisíveis que pesam mais que lutos declarados:
a perda da autoconfiança.
A perda da coragem.
A perda do sentido.
Como acreditar em mim de novo, Senhor, se fui eu quem falhou?
Como levantar-me, se sou eu quem me acusa e me diminui por dentro?
A resposta veio suave — não como grito, mas como sussurro do Espírito:
“Filha, Eu continuo a acreditar em ti.”
O olhar de Deus sobre mim não mudou só porque eu caí.
Deus não me ama apenas quando sou forte.
Não me investe apenas quando estou à altura.
Ele viu-me antes de eu saber quem era.
Chamou-me quando eu ainda era pequena, imperfeita, inexperiente.
Amou-me antes de eu fazer qualquer coisa para merecer.
E esse amor permanece.
Mesmo quando eu não me suporto.
Mesmo quando me rejeito ou me esqueço de quem sou.
Fé não é só acreditar em Deus.
É também confiar que Ele está certo ao acreditar em mim.
A fé não é uma via de mão única.
Ela começa em Deus, mas transforma quem a recebe.
A fé cura a alma. Mas também devolve dignidade.
A fé dá-nos asas, sim — mas, primeiro, devolve-nos o chão.
E quando a fé se torna carne, quando ela penetra para lá da superfície e toca as feridas escondidas, começamos a reerguer-nos… ainda frágeis, ainda com medo, mas com uma chama acesa dentro de nós:
“Talvez eu ainda tenha algo para oferecer.”
Não estou a falar de autoestima vazia.
Falo da identidade reencontrada em Deus.
Não se trata de olhar para o espelho e repetir frases motivacionais.
Trata-se de olhar para a cruz e lembrar o preço que foi pago por mim.
Porque quem é comprada com Sangue não pode ser descartável.
Quem é chamada de filha não pode viver como se fosse esquecida.
Quem é habitada pelo Espírito não é um erro a caminhar — é uma promessa em reconstrução.
A ferida do auto-desprezo é real — mas a Graça também.
Talvez tenha sido uma traição.
Talvez alguém te fez acreditar que não valias nada.
Talvez foste negligenciada, diminuída, manipulada.
Talvez erraste — e o peso da culpa ainda mora contigo.
Mas o que quer que tenha quebrado a tua confiança… não é mais forte do que Aquele que te pode restaurar.
E mais: a fé que tens em Deus pode ser o caminho para recuperares a fé em ti mesma.
Não porque és perfeita.
Mas porque Ele é.
Ser mulher de fé não é ser imune à dor, à queda ou ao desânimo.
É saber quem nos levanta.
A fé devolveu-me a coragem de recomeçar.
De tentar outra vez, mesmo tremendo.
De perdoar-me, mesmo sem esquecer.
De levantar a cabeça, mesmo quando ainda escorrem lágrimas.
Voltar a acreditar em mim não foi uma decisão tomada num dia.
Foi um processo.
Foi o caminho de volta a mim mesma — com Deus por guia.
Hoje, sou mulher de fé.
E isso inclui a fé que tenho no que Deus ainda vai fazer em mim.
Não sou perfeita.
Nem preciso de o ser.
Sou filha, e isso basta-me.
A fé que tenho em mim é, no fundo, fé n’Ele — fé no que Ele sonhou para mim quando me criou.
Fé no que Ele escreveu a meu respeito antes do tempo.
Fé na história que Ele ainda está a contar — mesmo que, agora, eu só veja um capítulo.
E tu, mulher que me lês:
Se estás cansada, se perdeste a fé em ti mesma, faz esta oração comigo:
“Senhor,
Eu entrego-Te as partes de mim que deixei cair.
As que julgo indignas.
As que já nem sei onde estão.
Ensina-me a amar aquilo que criaste com tanto amor.
Restaura-me onde me perdi.
E devolve-me a fé em mim — não como acto de vaidade,
mas como acto de fidelidade ao Teu amor por mim.”
Porque há força em ti.
Há luz em ti.
Há promessas por cumprir — e elas não foram canceladas só porque tropeçaste.**
Levanta-te, filha.
Tu és mais do que o erro.
Mais do que o passado.
Mais do que a dor.
Mais do que disseram de ti.
Tu és de Deus.
E Ele nunca deixou de acreditar em ti.