Deus Se Importa com os Teus Sentimentos

Sou mulher. Sou humana. E, por vezes, senti como se o peso da minha emoção fosse demais até para mim.

Mas descobri — nem sempre à primeira — que Deus nunca vira o rosto à minha dor.

Nem aos meus medos. Nem às minhas angústias. Nem à minha alegria, mesmo quando ela parece banal aos olhos dos outros.

Descobri, com a experiência da fé, com a intimidade da oração e com o silêncio diante do sacrário, que Deus não me ama apesar dos meus sentimentos. Deus ama-me também neles.

Ele não exige de mim uma força sobre-humana para me amar. Ele ama-me quando sou forte e quando sou frágil.

Ele criou-me com emoções — não para que eu as negasse, mas para que as oferecesse.



O Deus das Escrituras não é indiferente: Ele é profundamente relacional.

Na Bíblia, vemos o Senhor como Aquele que vê, escuta, sente e responde.

“Vi a aflição do meu povo, ouvi os seus clamores, conheço os seus sofrimentos” (Êxodo 3,7), diz Ele a Moisés.

É um Deus que acolhe lágrimas. Que entende gemidos que não se conseguem traduzir em palavras.

Que nos busca no esconderijo da vergonha, como buscou Adão e Eva.

Que pergunta: “Onde estás?” — não porque não saiba, mas porque quer que o digamos.

Não preciso fingir alegria diante de Deus.

Não preciso compor uma imagem espiritualizada de mim mesma para ser acolhida.

Posso chegar a Ele como estou.

Cansada. Triste. Confusa. Com medo.

Ou alegre, mas insegura. Feliz, mas carente. Esperançosa, mas cheia de perguntas.



A espiritualidade cristã não é anestesia emocional.

Ser de Deus não significa viver num estado de apatia espiritual.

Sentir é humano. Reprimir não é santidade — é negação.

Jesus chorou.

Jesus angustiou-se.

Jesus transfigurou o medo na oração no Horto das Oliveiras.

Jesus acolheu as emoções dos outros: da mulher pecadora que chorava aos Seus pés, do centurião preocupado com o servo, de Maria que lamentava a morte do irmão.

Nunca os censurou por sentirem. A todos deu resposta.

Então, por que razão tantas vezes nos exigimos uma perfeição emocional que nem Cristo cobrou aos que amava?

Por que escondemos de Deus aquilo que mais deveríamos entregar?



Os teus sentimentos não são um obstáculo — são matéria-prima da tua relação com Deus.

A oração mais honesta não é a mais bonita — é a mais verdadeira.

Há dias em que eu oro com as mãos no alto, em gratidão.

E há outros em que oro com o rosto coberto de lágrimas.

Há dias em que louvo com entusiasmo, e outros em que só consigo dizer:

“Senhor, estou aqui… não sei mais o que fazer.”

E é nesses momentos — os mais crus, os mais vulneráveis, os mais nu — que sinto o colo de Deus com mais clareza.

Porque Ele é Pai. E um Pai verdadeiro nunca abandona uma filha que Lhe mostra o coração.



Deus importa-Se com o que tu sentes porque Ele criou-te por amor e para o amor.

O ser humano não é feito apenas de razão.

A fé cristã não nos convida ao estoicismo, mas à esperança.

Não à insensibilidade, mas à confiança.

Deus convida-me a amadurecer emocionalmente, sim — mas a partir da verdade, não da repressão.

A crescer, sim — mas sem mutilar a minha alma.



As tuas emoções não te tornam fraca. Tornam-te humana.

E a tua humanidade não afasta Deus. Atrai-O.

Porque foi por ti, exactamente como és, que Ele Se fez homem.

Como mulher, aprendi a dar nome ao que sinto e oferecer isso a Deus.

Aprendi a não calar a raiva, mas a apresentá-la com reverência.

A não esconder o medo, mas a deixá-Lo ser força dentro do meu clamor.

A não disfarçar a decepção, mas a expô-la à luz da Palavra.



Aprendi que Deus não me pede que O impressione. Pede que confie.

E confia-Lhe quem se mostra como é.

Quem reconhece as suas quedas.

Quem partilha as suas alegrias.

Quem aceita que sentir não é sinal de fraqueza, mas de vida interior activa.



E tu, já entregaste os teus sentimentos a Deus hoje?

Não como se fossem ruído.

Mas como se fossem matéria sagrada de oração.

Fala com Ele sobre o que sentes, com verdade.

Entrega-Lhe o que te dói — não para que Ele apague, mas para que Ele cure.

Entrega-Lhe o que te alegra — não para vanglória, mas para louvor.

Entrega-Lhe o que te confunde — não para que te diga tudo, mas para que te mostre o que realmente importa.



Finalizo com esta oração simples, mas profundamente real:

Senhor,

Tu que criaste o meu coração,

conhece cada batida dele.

Ensina-me a sentir Contigo.

A confiar-Te o que me incomoda, sem medo de julgamento.

A dar-Te as minhas lágrimas, os meus risos, as minhas inquietações.

Que eu não me esconda de Ti por estar frágil.

Que eu não me afaste de Ti por vergonha do que sinto.

Que eu compreenda que o Teu Amor é maior do que qualquer emoção, e que, Contigo, posso ser inteira — até quando me sinto quebrada.

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