Como cuidar do corpo como templo, sem obsessão
Sou mulher. Fui criada com corpo, alma e espírito.
E o meu corpo não é uma prisão nem uma moeda de troca:
é templo.
Não fui chamada a adorá-lo.
Fui chamada a habitá-lo com consciência, gratidão e santidade.
O meu corpo é terreno sagrado — não porque a cultura o diz, mas porque Deus o consagrou com o Seu Espírito.
E é nesta consciência que aprendo, todos os dias, a cuidar dele sem o idolatrar.
A respeitá-lo sem o submeter à ditadura do espelho ou dos padrões.
A ouvi-lo sem o tornar ídolo.
“Ou não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo?” (1 Coríntios 6, 19)
Estas palavras não são metáfora poética. São verdade eterna.
O Espírito Santo habita em mim.
E se o Altíssimo escolheu este barro para se fazer morada, então eu sou chamada a honrar essa presença — com zelo, não com obsessão.
Com reverência, não com vaidade.
Com cuidado, não com escravidão.
A obsessão é sempre um desvio — mesmo quando parece zelo.
Cuidar do corpo, hoje, pode facilmente tornar-se uma idolatria subtil.
A sociedade ensina-nos a adorar a aparência, a juventude, a performance, a magreza, o controlo.
Mas Deus convida-nos ao equilíbrio.
O zelo pelo templo não pode tornar-se culto à estética, nem disfarce de um perfeccionismo ferido.
A fé que professo não me chama a ser obcecada por mim mesma,
mas a estar ao serviço do Reino — inteira.
E para isso, preciso do meu corpo.
Forte. Saudável. Vivo.
Não me escondo num corpo negligenciado, nem me perco num corpo sobrevalorizado.
Habito o meu corpo com presença. E consagro-o com consciência.
Jejuo, sim — mas para libertar a alma, não para manipular a balança.
Movimento-me, sim — mas para servir com alegria, não para caber num molde.
Descanso, sim — porque o corpo cansado também precisa de silêncio e ternura.
Alimento-me — com gratidão, com critério, mas sem culpa.
Sem medo do pão, porque o pão também foi sinal de bênção.
Sem medo da abundância, porque o meu Deus não é Deus de escassez,
mas de equilíbrio, sabedoria e moderação.
O corpo não é a medida da minha fé. Mas é parte da minha entrega.
Não preciso de me punir para ser santa.
Não preciso de me violentar para ser digna.
A cruz que Jesus pediu que eu carregasse não é feita de dietas extremas, cirurgias compulsivas ou vaidade disfarçada de disciplina.
A cruz é amor.
É entrega.
É renúncia do ego.
E nisso, o corpo é instrumento, não alvo.
Ser mulher de fé é também cuidar do corpo com dignidade.
E reconhecer que nele habita um sopro divino.
Respeito o meu ciclo.
Honro os sinais da criação em mim.
Não me envergonho das mudanças, das curvas, das rugas, das marcas —
são testemunhos de vida, sinais da minha caminhada.
Não sou chamada a parecer eternamente jovem.
Sou chamada a ser eternamente fiel.
A beleza que Deus procura em mim é fruto do Espírito, não do ginásio.
É paz, é bondade, é domínio próprio. É humildade, é moderação.
Quando o meu corpo é cuidado em verdade,
o Espírito manifesta-se com liberdade.
Porque o templo não é adornado apenas com ouro ou perfumes —
é adornado com coerência, com silêncio, com discernimento.
Hoje, escolho amar o meu corpo como Deus o vê:
não como um projecto para agradar aos homens, mas como uma morada consagrada.
E por isso, cuido.
Mas sem obsessão.
Amo.
Mas sem vaidade.
Alimento.
Mas sem culpa.
Descanso.
Mas sem preguiça.
Sou filha, não escrava.
Sou templo, não vitrine.
Sou consagrada, não produto.
Sou mulher inteira. No corpo, na alma, no espírito.
E cada gesto de cuidado é também um gesto de adoração.
Não ao corpo. Mas ao Deus que o habita.